Nos últimos anos, o Matopiba — região que compreende partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — consolidou-se como uma das fronteiras agrícolas mais importantes do Brasil, principalmente na produção de soja. Este documento analisa o crescimento expressivo da área plantada com soja nesta região entre 2018 e 2024, explorando fatores de expansão, desafios enfrentados e perspectivas futuras para produtores e investidores do agronegócio.
O Papel Estratégico do Matopiba no Agronegócio Brasileiro
O Matopiba representa uma das mais recentes e promissoras fronteiras agrícolas do Brasil, transformando-se rapidamente em um polo essencial para a produção de grãos, especialmente soja. Esta região, que engloba 337 municípios distribuídos entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, caracteriza-se principalmente pela predominância do bioma Cerrado, com solos que, após correção adequada, revelam-se extremamente produtivos.
Entre 2018 e 2024, o Matopiba consolidou sua posição estratégica no cenário nacional, representando aproximadamente 10% da produção brasileira de soja em 2022. Segundo dados da CONAB e do IBGE, a área plantada com soja nesta região apresentou um crescimento médio anual de 6%, saltando de cerca de 5 milhões de hectares em 2018 para mais de 7 milhões em 2024.

Este crescimento acelerado tem gerado impactos significativos na economia regional e nacional. Municípios como Balsas (MA), Luís Eduardo Magalhães (BA), Uruçuí (PI) e Pedro Afonso (TO) experimentaram transformações socioeconômicas profundas, com elevação do PIB agrícola, geração de empregos e desenvolvimento de cadeias de suprimentos associadas. Além disso, o valor da terra na região valorizou-se consideravelmente, atraindo investimentos não apenas de produtores rurais tradicionais, mas também de fundos de investimento nacionais e internacionais.
A contribuição do Matopiba também se reflete nas exportações brasileiras. A soja produzida nesta região tem alta aceitação no mercado internacional devido à sua qualidade e elevado teor de proteína, características valorizadas especialmente pelos mercados asiáticos. Em 2023, estima-se que cerca de 70% da produção de soja do Matopiba foi destinada à exportação, contribuindo significativamente para o superávit da balança comercial brasileira.
Fatores que Impulsionam a Expansão da Soja no Matopiba
O crescimento expressivo da área cultivada com soja no Matopiba entre 2018 e 2024 não ocorreu por acaso. Diversos fatores combinados criaram condições favoráveis para esta expansão, transformando a região em um polo de atração para produtores e investidores do agronegócio. Compreender estes fatores é essencial para prever tendências futuras e desenvolver estratégias eficientes de investimento e produção na região.
Condições Edafoclimáticas Favoráveis
O Matopiba possui um regime pluviométrico relativamente estável, com períodos de chuva bem definidos que coincidem com as necessidades hídricas da soja. A região apresenta topografia predominantemente plana ou suavemente ondulada, ideal para a mecanização agrícola em larga escala. Embora os solos do Cerrado sejam naturalmente ácidos e pobres em nutrientes, técnicas modernas de correção e fertilização transformaram estas áreas em terras altamente produtivas.

Disponibilidade de Terras e Menor Custo de Aquisição
Comparado a regiões tradicionais de cultivo como o Mato Grosso e Paraná, o Matopiba ainda oferecia, especialmente entre 2018 e 2021, terras a preços mais acessíveis. Esta vantagem atraiu produtores dessas regiões tradicionais que buscavam expandir suas operações. Muitas áreas anteriormente dedicadas à pecuária extensiva foram convertidas para a agricultura intensiva, aproveitando o potencial produtivo dos solos.
Adoção de Tecnologias Avançadas
A região experienciou uma rápida adoção de inovações tecnológicas, incluindo variedades de soja adaptadas às condições locais, sistemas de plantio direto, agricultura de precisão e digitalização da gestão agrícola. Estas tecnologias permitiram superar desafios climáticos e aumentar a produtividade, que em algumas áreas alcança médias superiores a 60 sacas por hectare.
Melhoria na Infraestrutura Logística
Investimentos significativos em infraestrutura, como a expansão da Ferrovia Norte-Sul, melhorias no Porto de Itaqui (MA) e desenvolvimento do corredor logístico TEGRAM, reduziram os custos de transporte e tornaram a exportação mais competitiva. A inauguração de novos trechos rodoviários e a ampliação da capacidade de armazenagem também contribuíram para viabilizar a expansão agrícola.
Incentivos Financeiros e Política Agrícola
Programas de crédito rural direcionados, como linhas especiais do FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste) e FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste), facilitaram o acesso a recursos para investimento em tecnologia e expansão de áreas. Além disso, políticas públicas específicas para o desenvolvimento do Matopiba criaram um ambiente institucional favorável.
Incentivos Financeiros e Política Agrícola
Programas de crédito rural direcionados, como linhas especiais do FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste) e FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste), facilitaram o acesso a recursos para investimento em tecnologia e expansão de áreas. Além disso, políticas públicas específicas para o desenvolvimento do Matopiba criaram um ambiente institucional favorável.
O crescimento da demanda mundial por soja, impulsionado principalmente pela China e outros países asiáticos, também exerceu papel fundamental nesta expansão. Entre 2018 e 2024, mesmo com os desafios impostos pela pandemia de COVID-19, a demanda global manteve-se robusta, sustentando preços atrativos que estimularam os produtores a ampliar suas áreas de cultivo na região.
Perfil da Produção e Produtividade na Região
A evolução da sojicultura no Matopiba não se caracteriza apenas pela expansão territorial, mas também por significativos avanços em produtividade e eficiência produtiva. Entre 2018 e 2024, observou-se uma transformação no perfil dos produtores e nas práticas agrícolas adotadas, resultando em um modelo de produção cada vez mais tecnificado e profissionalizado.
A produtividade média da soja no Matopiba apresentou crescimento consistente durante o período analisado. Em 2018, a média regional situava-se em torno de 48 sacas por hectare, enquanto em 2024 já ultrapassava 55 sacas por hectare em muitas localidades. Este ganho de produtividade é especialmente relevante quando consideramos as particularidades edafoclimáticas da região, que historicamente apresentava maiores desafios quando comparada às áreas tradicionais de cultivo.
Quanto ao perfil dos produtores, observa-se uma significativa presença de médios e grandes empreendimentos agrícolas, com áreas que frequentemente ultrapassam 1.000 hectares. Muitos destes produtores migraram de outras regiões do país, trazendo consigo conhecimento técnico e experiência em gestão agrícola. A região também tem atraído grupos empresariais e fundos de investimento que adquirem propriedades para produção direta ou arrendamento, introduzindo modelos de negócio que combinam escala com alta tecnologia.
As práticas agrícolas adotadas refletem um alto grau de tecnificação. A adoção do Sistema de Plantio Direto (SPD) é praticamente universal, contribuindo para a conservação do solo e economia de recursos. A integração lavoura-pecuária (ILP) também vem ganhando espaço, especialmente em propriedades de maior porte, permitindo diversificação de receitas e uso mais eficiente dos recursos naturais.
No âmbito genético, variedades de soja especificamente desenvolvidas para as condições do Matopiba têm sido cada vez mais utilizadas. Estas cultivares apresentam características como ciclo médio a precoce, adaptação a períodos de estiagem, resistência a pragas regionais e alta produtividade, resultados de programas de melhoramento genético conduzidos por empresas privadas e pela Embrapa.
