A recente decisão do presidente Donald Trump de impor tarifas de 10% sobre produtos brasileiros gera incertezas para o agronegócio nacional, especialmente para setores como carne, suco de laranja e cana-de-açúcar. Analisamos as potenciais consequências dessa medida para produtores rurais do Matopiba e para as principais commodities agrícolas brasileiras.
Panorama Atual das Exportações Agrícolas
Situação Pré-Tarifas
O Brasil já enfrentava barreiras significativas para alguns produtos. A carne brasileira, por exemplo, já era taxada em 26,4%, com cota inicial isenta de 65 mil toneladas que se esgota rapidamente. Mesmo assim, em 2024, os EUA importaram 229 mil toneladas de carne brasileira, gerando US$ 1,35 bilhão.
Balança Comercial
Curiosamente, a relação comercial Brasil-EUA já é deficitária para o Brasil. Em 2024, exportamos US$ 40,3 bilhões para os EUA, enquanto importamos US$ 40,6 bilhões. Isso contraria a lógica da imposição tarifária, que teoricamente visaria equilibrar déficits comerciais americanos.
Carne
EUA são o segundo maior importador da carne brasileira.
Suco de Laranja
Brasil e México são os principais fornecedores para o mercado americano.
Etanol
Taxa atual de 2,5% pode subir para 10% com novas medidas.
Impactos para o Matopiba
A região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), nova fronteira agrícola brasileira, pode enfrentar desafios específicos com as novas tarifas americanas. Produtores de soja, milho e algodão desta região dependem fortemente das exportações e da estabilidade dos preços internacionais.
Soja
Embora a China seja o principal destino, qualquer reconfiguração do mercado global causada pelas tarifas americanas pode afetar preços e demanda, impactando indiretamente produtores do Matopiba.
Milho
O aumento de custos para exportação aos EUA pode pressionar preços internos, reduzindo a margem de lucro para produtores da região, que já enfrentam altos custos logísticos.
Algodão
Produtores de algodão do Matopiba podem enfrentar maior competição no mercado global se o produto brasileiro perder competitividade nos EUA devido às novas tarifas.
Perspectivas e Estratégias de Adaptação
Potenciais Vantagens
- Diversificação de mercados e menor dependência dos EUA
- Desenvolvimento de produtos de maior valor agregado
- Fortalecimento do mercado interno e regional (Mercosul)
Desafios Imediatos
- Queda de rentabilidade a curto prazo
- Pressão sobre preços das commodities
- Possível retaliação brasileira afetando insumos importados
O setor precisa aguardar a publicação do decreto americano para avaliar o impacto exato sobre cada produto. A Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso brasileiro, pode ser um instrumento importante nas negociações futuras, permitindo ao Brasil impor sanções comerciais equivalentes.
“Acreditamos num estreitamento da parceria porque os EUA enfrentam desafios no ciclo pecuário e, por pelo menos dois anos, precisarão de quem possa garantir volume, qualidade e preço — e esse parceiro é o Brasil.” — Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec).
