Em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado, parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) confrontaram o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sobre os principais desafios que afetam o setor produtivo no país. As cobranças concentraram-se em infraestrutura deficiente, limitações do Seguro Rural, dificuldades de acesso ao crédito e ausência de estoques reguladores de alimentos. O evento, conduzido pelo senador Zequinha Marinho, expôs as preocupações dos produtores rurais em busca de respostas concretas do governo federal para o fortalecimento do agronegócio brasileiro.
Infraestrutura e Escoamento da Produção: Gargalos Persistentes
A precariedade da infraestrutura logística no Brasil continua sendo um entrave significativo para o desenvolvimento do agronegócio. Durante a audiência, o senador Wellington Fagundes (PL-MT) destacou os problemas históricos que afetam o escoamento da produção em Mato Grosso, maior produtor de commodities do país. “Precisamos de investimentos urgentes em estradas, ferrovias e armazéns”, enfatizou o parlamentar.
Um ponto alarmante levantado pelo senador foi a escassez de reservas estratégicas de óleo diesel, essencial para a operação de máquinas agrícolas. “Enquanto os Estados Unidos têm reservas para um ano, o Brasil tem apenas um dia. Isso é inaceitável”, criticou Wellington, expondo a vulnerabilidade do setor produtivo.

A capacidade de armazenagem também esteve no centro do debate. O ministro Carlos Fávaro reconheceu a deficiência e mencionou a necessidade de parcerias com o setor privado para ampliar a capacidade de estocagem da produção brasileira, embora não tenha apresentado um plano concreto de ação com prazos definidos, o que gerou insatisfação entre os parlamentares.
O senador Sérgio Petecão (PSD-AC) trouxe à discussão outro desafio fundamental: a falta de conectividade no campo. “Precisamos de internet de qualidade para que os produtores possam acessar tecnologias e mercados”, afirmou. Embora o ministro tenha citado um programa de conectividade rural em parceria com o BNDES e o Ministério das Telecomunicações, a ausência de detalhes sobre implementação evidenciou mais uma lacuna nas políticas para o setor.
Seguro Rural e Crédito: Cobertura Insuficiente e Acesso Limitado
O baixo alcance do Seguro Rural no Brasil foi um dos temas mais debatidos durante a audiência. O senador Jayme Campos (União-MT) criticou o fato de a cobertura atingir apenas 10% dos produtores brasileiros, enquanto em países desenvolvidos o
índice chega a 70%. O parlamentar defendeu seu Projeto de Lei 2951/24, que visa modernizar o sistema e torná-lo mais acessível, mas ressaltou a necessidade de apoio governamental para avançar.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), por sua vez, propôs um aumento de R$ 2 bilhões no orçamento destinado ao Seguro Rural. “Precisamos criar uma cultura de seguro no campo. Ele não só protege o produtor, mas também facilita o acesso ao crédito”, argumentou a ex-ministra da Agricultura.
Complementando essa visão, o senador Jaime Bagattoli (PL-RO) sugeriu que os produtores que acessam recursos públicos deveriam obrigatoriamente contratar seguros, ampliando a base de participantes e potencialmente reduzindo custos.
A revisão da Lei de Crédito Rural também foi apontada como urgente por diversos parlamentares, que a consideram defasada e incapaz de atender às demandas contemporâneas do agronegócio brasileiro.
O ministro Fávaro reconheceu a importância dessas questões, mas condicionou a ampliação de recursos para o Seguro Rural às negociações com o Tesouro Nacional, sem apresentar garantias concretas de melhorias a curto prazo.
Desafios Regionais e Importação de Insumos

O senador Alan Rick (União-AC) manifestou preocupação com o financiamento da Embrapa, cobrando a efetiva aplicação da emenda de R$ 400 milhões aprovada no ano anterior. “A Embrapa é essencial para o desenvolvimento do agro, mas está subfinanciada”, afirmou. O parlamentar também questionou sobre a habilitação do Acre para exportação de carne, tema que ficou sem resposta detalhada.
A reciprocidade nas relações comerciais internacionais foi outro ponto debatido. Jayme Campos questionou o ministro sobre o Projeto de Lei 2088/23, que trata da reciprocidade econômica nas relações comerciais brasileiras. Fávaro manifestou apoio à proposta, afirmando ser “o melhor caminho para acabar com a retórica protecionista que domina o mundo”, mas sem detalhar como o governo atuará para implementar esse princípio em acordos comerciais futuros.
